Inflação atinge a maior taxa para janeiro em 6 anos e chega a 10,38% em 12 meses

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RIO – Puxada majoritariamente por alimentos, a inflação oficial no País subiu 0,54% em janeiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior variação para o mês desde 2016. Da alta de 0,54%, 0,23 ponto porcentual (p.p.) foi acrescentado pelo avanço de 1,11% no grupo Alimentação e Bebidas.

A virada de 2015 para 2016 foi o último período, até setembro passado, em que o IPCA variou acima de 10% no acumulado em um ano. Agora, o IPCA acumulou alta de 10,38% nos 12 meses até janeiro, ante 10,06% até dezembro.

Os dados vieram como o previsto por analistas consultados pelo Projeções Broadcast. As altas foram disseminadas e os alívios, concentrados nos preços de combustíveis, da conta de luz e das passagens aéreas. Segundo economistas, o resultado mantém a perspectiva de inflação pressionada, como sinalizada pelo Banco Central (BC) na terça-feira, 8.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, a inflação de janeiro “não piorou a situação, mas não trouxe nenhuma novidade positiva”. “O que pendeu para baixo foram os (preços) administrados, mas os (preços) livres continuam altos. É uma leitura complicada, não teve nenhum alívio no curto prazo”, disse Luis Menon, economista da gestora Garde Asset.

Frutas, carne e café moído – Segundo André Guedes, analista do IBGE, a alta na inflação de alimentos foi puxada pela alimentação em domicílio, especialmente porque a alta desses preços acelerou em janeiro ante dezembro. A alimentação em domicílio passou de alta de 0,79% em dezembro para 1,44% em janeiro. Os preços das frutas subiram 3,40% em janeiro, os do café moído avançaram 4,75% (o 11º mês consecutivo de alta) e as carnes ficaram 1,32% mais caras.

O encarecimento de alimentos in natura (como frutas, verduras e legumes) no verão está dentro do comportamento sazonal, por causa do período chuvoso no Centro-Sul do País, mas, neste ano, o clima é marcado por um excesso de chuvas no Sudeste e em alguns Estados do Nordeste, e pela seca no Sul. “Fatores climáticos influenciam na quantidade ofertada e na qualidade, influenciando nos preços”, disse Guedes.

Só que a inflação não ficou só nos alimentos, “está mais disseminada em janeiro do que na maior parte de 2021”, afirmou Guedes. O índice de difusão (que mede a proporção dos itens que tiveram alta de preços em relação ao total de produtos e serviços cujos preços são pesquisados) ficou em 73%. Ano passado, o indicador ficou acima de 70% apenas em dezembro (75%) e em agosto (72%).

Segundo o analista do IBGE, contribui para a disseminação uma elevação generalizada de custos, por causa da inflação de itens usados como insumo de diversas atividades, como os combustíveis e a energia elétrica. A elevação generalizada de custos atinge em cheio a indústria, ainda afetada pelo travamento das cadeias globais de produção, como em diversos países.

A alta de 1,82% do grupo Artigos de residência, a maior entre os nove pesquisados no IPCA, sinaliza para esses gargalos, disse Guedes. A inflação desse grupo foi puxada por eletrodomésticos e equipamentos (2,86%), mobiliário (2,41%) e TV, som e informática (1,38%). Esses itens acumulam altas expressivas em 12 meses – 15,06%, 16,78% e 12,39%, respectivamente.

“Esse desarranjo nas cadeias globais acaba afetando itens que trabalham com componentes importados, como eletrodomésticos e TVs. Podemos citar os automóveis também”, afirmou Guedes.

Carro novo e gasolina

Dentro do grupo Transportes, o automóvel novo ficou 2,19% mais caro em janeiro. Em 12 meses, a alta já está em 17,18%. O setor automotivo tem sido um dos mais afetados pelas restrições nas cadeias globais de produção, que provocam escassez e encarecimento de insumos – a falta de semicondutores é frequentemente citada como símbolo desses gargalos.

Segundo Leal, do Banco Alfa, as pressões de altas de preços estão “muito espalhadas para cima”, enquanto a “pressão para baixo” está “concentrada em gasolina, etanol e passagem aérea”.

A gasolina ficou 1,14% mais barata no IPCA de janeiro e o etanol caiu 2,84%, fazendo os preços médios dos combustíveis terem queda média de 1,23%. O movimento de janeiro foi influenciado pela redução do ICMS cobrado sobre a gasolina no Rio Grande do Sul. Na região metropolitana de Porto Alegre (RS), a gasolina ficou 6,20% mais barata em janeiro, influenciando, conforme Guedes, do IBGE, a variação agregada no IPCA nacional.

Apesar da queda recente, em 12 meses, a gasolina acumula alta de 42,71%. Da mesma forma, o etanol acumula alta de 54,95% em 12 meses até janeiro. Segundo Guedes, a trégua pode ser temporária, porque os preços de combustíveis nas refinarias, que haviam caído em dezembro, foram reajustados para cima em 12 de janeiro. Como ocorreu em meados do mês, esse último reajuste pode não ter chegado totalmente para os consumidores finais, e é possível que ocorram novas altas nos postos.

Energia elétrica

A conta de luz também ficou mais barata sob influência de uma redução no ICMS do Rio Grande do Sul. A tarifa de energia elétrica ficou 1,07% mais barata em janeiro – em Porto Alegre (RS), a queda foi de 6,81%. Mesmo assim, em 12 meses, a alta média nos preços da conta de luz segue em 27,02%, porque permanece em vigor a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.

O sistema de bandeiras, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), repassa ao consumidor final a variação de custos de geração de energia, que são maiores nos períodos de seca, quando são acionadas as usinas termelétricas, mais caras. A bandeira Escassez Hídrica é extraordinária, aplicada como medida para enfrentar a estiagem do ano passado, que levou os reservatórios das usinas hidrelétricas aos níveis mais baixos da história.

Outro alívio citado por economistas veio das passagens aéreas, que ficaram 18,35% mais baratas, maior impacto negativo no IPCA de janeiro. De acordo com Guedes, do IBGE, o recuo nos bilhetes aéreos foi sazonal, já que, nos últimos anos, os preços têm caído em janeiro, após subirem em dezembro.

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