Remédio para calvície e frasco de perfume centenários são descobertos durante escavação em Fortaleza; veja o vídeo

NOTÍCIAS DO CEARÁ

Do coração de Fortaleza, no Centro da cidade, a história pulsa e pode ser revisitada em objetos centenários encontrados durante escavações para a instalação da Linha Leste do Metrô. Entre os resquícios do século XIX, frasco de perfumeremédio para calvície e garrafas de vinho foram recolhidos perto da Praça da Sé no último mês.

Os achados, provavelmente, pertenciam a membros da elite local da época e estavam juntos numa lixeira. Quando se acham objetos assim, é feita higienização, análise laboratorial e encaminhamento para instituição de guarda. Nesse caso, são mostras do auge da Belle Époque no Ceará

Naquele período, a sociedade fortalezense absorvia influências culturais da França de onde veio o frasco de perfume Fougere Royale, da marca Houbigant, que foi fabricado em 1884. A marca, inclusive, ainda fabrica perfumes.

“Essa mancha (concentração de objetos) em que encontramos o frasco de perfume se destaca pela quantidade de material em vidro, especificamente, garrafa de vinho e talvez de espumante. Além de um frasco íntegro de remédio para calvície”, explica a arqueóloga Emília Arnaldo.

Os materiais foram separados com auxílio de pincéis, identificados e registrados no local no dia 25 de julho deste ano. O frasco de perfume está cheio de sedimentos, o remédio para calvície preservado e as garrafas quebradas, mas devem passar por análise para detalhamento do conteúdo.

Também coordenadora geral do projeto de gestão das obras do metrô, Emília contextualiza que as escavações na Praça da Sé revelaram várias manchas com materiais domésticos como louça, vidros, faianças (tipo de cerâmica) e até ossos de animais.

“Se hoje em dia o lixo revela muito do padrão de consumo, o mesmo pode ser aplicado para sociedade do século passado”, reflete a especialista. Os pedaços do passado são encontrados nas escavações iniciadas no segundo semestre de 2021.

São canteiros de obras, como para instalação da Linha Leste do Metrô de Fortaleza (Metrofor) e a reforma na Estação das Artes, próxima à Praça da Estação, que se tornaram também quatro sítios arqueológicos.

O que mais esses objetos contam sobre a história da cidade? Saber quem viveu e por onde passou pela Capital tem relevância histórica, como observa Luís Mafrense, coordenador de gestão do Programa de Acompanhamento Arqueológico da Linha Leste e da Estação das Artes, da empresa ARC Soluções em Arqueologia.

“Aquela área em frente à Catedral Metropolitana, desde os primórdios de Fortaleza, tem sido reocupada, porque é bem próxima ao Forte de Nossa Senhora da Assunção e ao Riacho Pajeú”, indica.

Da criação de Fortaleza, desde o aldeamento, criação da vila, elevação da cidade até ser a Capital do Ceará, a história da cidade tem passado por aquela região. Quando a gente tem a oportunidade de realizar um trabalho como esse, junto a uma obra de infraestrutura urbana, ajuda a entender a história de Fortaleza.

Assim, as cerâmicas, garrafas, faianças portuguesas e inglesas, ferros, vidros, canhão, cachimbo já encontrados remetem aos séculos XVII, XIX e XX.

“Essas informações podem repassar uma nova etapa da historiografia do Ceará, inclusive, a gente também desenvolveu uma pesquisa arqueológica na Estação das Artes. Fizemos escavação e tivemos muita sorte, porque em todo esse período identificamos materiais em diferentes pontos de Fortaleza”, completa.

COMO É FEITO O TRABALHO ARQUEOLÓGICO

Parte das escavações na Praça da Sé iniciaram em junho e já foram identificadas várias manchas com esses materiais históricos.

“Tivemos um impacto no nosso cronograma com a chuva e foram encontradas algumas áreas de concentração bem revolvidas, muito material de zinco. Estamos focando as escavações em alguns pontos”, detalha Luís.

Mas esse trabalho não é fácil, porque os especialistas precisam usar equipamentos que não danifiquem os objetos que vão surgindo. O material vai para uma instituição de guarda licenciada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pode integrar museus e exposições.

“Quando a gente chega nesse contexto de escavação, é todo um trabalho feito com pincel, porque precisamos preservar o material e o contexto em que ele foi identificado”, reforça.

“Temos um laboratório onde fazemos todas as análises, todo o processo de catalogação do material. Após a coleta é levado para o laboratório, passa pelo processo de higienização e catalogação, depois será integrado ao tombo da instituição de guarda”, conclui.

Vídeo:

 

*** Informações com ➡ Diário do Nordeste  
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