Em entrevista a cantora Paula Fernandes pede desculpas aos fãs.

ENTRETENIMENTO

“Vivo um processo de amadurecimento e de mudanças mais profundas”. É assim que Paula Fernandes descreve seu atual momento, que deu origem ao novo trabalho, “11:11”, que acaba de ser lançado. Aos 38 anos, a cantora se diz renovada e faz um balanço de tudo que passou, com direito a pedido de desculpas.

“Cometi muitos erros por inexperiência. Chega uma hora em que o artista que está no topo não dá conta da demanda. Eu não tinha equipe preparada, em 2011 fazia 220 shows ao ano e era impossível atender todos os fãs. Foi erro meu não ter dito mais ‘nãos’ (aos contratantes), afirma ela.

Recordando sua trajetória, Paula Fernandes diz que foi difícil ser pioneira “com salto fino em palcos sempre preparados para receber um homem”, tendo enfrentado machismo e até assédio, e que seu jeito tímido foi muitas vezes mal compreendido, ajudando a criar a fama de antipática que a persegue até hoje.

Mas a nova fase chega cheia de esperanças para a cantora, que celebra o autoconhecimento adquirido na pandemia e a nova perspectiva que ganhou após o acidente de carro sofrido em agosto. Além disso, ela comemora a melhora de sua enxaqueca crônica, o que inspirou até mesmo o nome do novo trabalho. “Faço música diferente, trato pessoas de modo diferente, sou outra pessoa”, resume ela, que, nesta entrevista, comentou o fiasco de trabalho “Shalow now” e até mesmo a fama de bolsonarista. 

A gente acorda uma nova pessoa todos os dias. Vivo um processo de amadurecimento e de mudanças mais profundas, a pandemia me trouxe autoconhecimento. Pude entrar em mim, ver as prioridades e repensar a vida. Pude estar com pessoas com quem não estava antes, estive mais dentro da vida da Paula Fernandes de Souza. Me resgatei na quarentena e isso me ajuda muito agora. À minha volta, todos sentem que estou mais bem resolvida comigo.

Por que demorou três anos para apresentar um trabalho novo após “Origens” (2019)?

Nunca segui o fluxo do mercado de ter que apresentar um hit toda hora. Não fluo sob pressão e respeitar meu tempo é importante. Esse hiato pode ser explicado por não ter essa cobrança. Não é que eu planeje, mas as coisas acontecem. Em “11:11”, há só três regravações e o resto de inéditas. É um projeto fresco de tudo.

Você diz que o nome do disco tem a ver com suas crises de enxaqueca. Já se curou?

Ainda as tenho, não tem cura. Há tratamento, mas vinha fazendo de forma errada. É uma doença e estou encarando. É um desafio diário, aplico injeção todo mês, faço botox na cabeça para estar aqui conversando com você sem dor. Mas antes era dor de cabeça todos os dias, o tempo todo.

Ano passado, entrei na internet e vi um site de astrologia que falava do portal 11:11. Coloquei no despertador este dia e esta hora e esqueci. E exatamente nesse dia e horário eu estava entrando numa clínica para tratar minhas dores. Para mim, foi um sinal. A pessoa que tem enxaqueca crônica e não sente dor sabe o que é viver. Faço música diferente, trato pessoas de modo diferente, sou outra pessoa.

Em 2019, a música “Juntos e shallow now” virou piada. Como aquilo mexeu com você?

Teve quem não gostasse, quem fez piada e aqueles que falaram que foi uma sacada de marketing. E não foi. Acabou que virou um fenômeno justamente por causa dos memes, ajudaram muito e todo mundo foi ouvir. Foi maravilhoso. Em nenhum momento fiquei contrariada.

O meme do Homem de Ferro falando “juntos e shallow now” foi demais (risos). Foi a melhor estratégia que eu poderia ter feito sem querer. A música teve o nome mais buscado de 2019 na internet. Empresas falaram disso. Espero ter uma grande ideia assim para um novo hit.

Meu coração está em paz, não tenho amizade com ele porque nunca tivemos contato mesmo. Existiu um convite, ele topou e me deixou sozinha no altar, mas é da consciência dele, só posso cuidar do meu caráter e comprometimento.

Não guardo mágoa, meu coração só tem espaço para coisa boa. Não nos encontramos mais, mas se rolar, um dia, tem que ser natural. O que não tem solução no mundo? Sobrevivi a um acidente, né? Ele nunca me procurou, mas não vejo problema nenhum. Para mim, é passado.

As pessoas não costumam te ver em círculos de amizade com outros sertanejos.

Essa coisa de amizade é bacana de falar, porque amigos, mesmo, tenho poucos. Tenho muitos colegas. No meio sertanejo e musical, em geral, a gente não consegue se encontrar, todos trabalhando ao mesmo tempo.

Só nos encontramos em festivais e não consigo aprofundar (o papo). Não conseguia conviver com a minha própria família. Eu sou um pouco mais tímida, mas as pessoas ficam criando histórias. Tem gente que já chega numa roda e domina a situação, mas eu tenho relação boa com todo mundo. Existe respeito.

Por algum tempo, você ficou com a fama de antipática. Isso parou ou continua?

É até hoje, mas isso não me tira o sono. Depois do acidente, para me tirar o sono é difícil, viu? O que é pequeno ficou menor. Mas a fama de antipática diminuiu com a internet por eu poder mostrar mais quem eu sou. A verdade é que aconteci de um jeito fenomenal, foi tudo muito grande e perdemos mesmo o controle da situação. Cometi muitos erros por inexperiência.

Chega uma hora em que o artista que está no topo não dá conta da demanda. Eu não tinha equipe preparada, em 2011 fazia 220 shows ao ano, era impossível atender todos os fãs. Peço desculpas. Foi erro meu não ter dito mais ‘nãos’ (aos contratantes), assim estaria mais descansada para receber o fã do jeito que ele gosta.

Era tudo acelerado, ficava sem dormir. E ainda sou mulher. Parte da antipatia vem do fato de eu ser pioneira, com salto fino em palcos sempre preparados para receber um homem.

Você sofreu com o machismo naquela época?

Todo o tempo. Abri caminho para as meninas que estão aí, mas o mercado de hoje não olha mais para uma mulher e pergunta por que ela quer banheiro no camarim. Comigo acontecia. Era rotulada como exigente. ‘Nossa, ela quer um piso diferente no palco’. Mas eu usava salto fino, cantava, dançava e precisava daquilo. Fui boi de piranha e sofri bombardeio.

Você já sofreu assédio nos bastidores da música e dos shows?

Sim. Não sou namoradeira, atirada, é meu jeito, mas isso foi malvisto: ‘Nossa, mas por que não quer (sair com determinada pessoa)? Porque não! Era a única menina nos bastidores dos shows. As pessoas foram me conhecendo e vendo meu jeito.

Sou discreta mesmo, mas se faço amizade, já faço piada e falo bobagem, sou divertida. O assédio sempre existiu, mas, na época, era a única mulher em um meio dominado por homens. Sempre tive postura séria. (Dizia) ‘Vim aqui para trabalhar e voltarei para a minha casa’.

Recentemente, você revelou que teve depressão aos 18 anos e pensamentos suicidas.

Não me lembro do último pensamento assim que tive. Escrevi um livro para falar disso e desmistificar algumas coisas, trazer a Paula que muitos não conhecem. Tive esse quadro depressivo aos 18, me tratei e hoje sou ativa, mais positiva. A maturidade chega e vamos lidando melhor com problemas e perdas. É superação. Se eu consegui, todos conseguem.

Entrando um pouco em política. Muitas pessoas dizem que você é bolsonarista. Elas têm razão?

Já falaram que eu sou lulista também (risos). Tenho perfil mais reservado, mas parece que o Brasil está rachado, as pessoas estão superduras com suas ideias e não tem diálogo. O povo é um só.

Acho que todo mundo tem que pesquisar mais sobre candidatos e ver qual tem mais o seu perfil, quem tem mais a ver com seu estilo de vida. Sou cidadã que quer o melhor para o país e estimulo que saibam mais sobre cada político. Não é cabo de guerra nem campo minado.

Estou num momento de pesquisar sobre quem vou escolher nas eleições, não sou alienada. O atual (presidente Bolsonaro) tem pontos negativos e positivos e quem já passou (pelo cargo) também. Até a votação, terei certeza em quem vou votar.

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