Neste domingo (23), a TV Globo levou ao ar no ‘Fantástico’ as imagens das ações de bolsonaristas na destruição do interior dos prédios no Planalto. Na última semana a CNN Brasil divulgou trechos recortados onde se dava a entender que houve uma participação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, que fazia parte do governo Lula.
Na edição do jornalístico da TV Globo, uma cronologia foi montada mostrando a ação dos vândalos bolsonaristas e de agentes que também faziam parte do extinto governo de Jair Bolsonaro para a invasão e destruição dos locais. Nas imagens é possível ver Gonçalves Dias chegando no Palácio do Planalto, onde ao entrar no prédio encontrou alguns Bolsonaristas que ja estavam deixando o local. O militar, então, retorna ao elevador e pede reforço policial para conter os invasores.
O gabinete de Lula, que estava trancado, não foi vandalizado, diferentemente de vários outros locais, entre eles a sala da primeira-dama Rosângela da Silva.
Em depoimento, Gonçalves Dias disse que voltou 16h29 e foi em direção a sala do presidente Lula, onde bolsonaristas tentavam invadir. O militar aguardou o início das prisões dos vândalos e foi indicando para onde eles teriam que ir. “Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do 3º e 4º piso, para que houvesse a prisão no 2º”, afirmou. Após acusações de uma suposta participação do militar nos atos por conta dos recortes de imagens da CNN Brasil, Gonçalves Dias pediu demissão para que o caso fosse investigado.
Os vídeos foram divulgados pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o GSI, após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Morais retirar o sigilo sobre eles.
Nas imagens da vistoria de autoridades ao local na noite após a destruição, também é possível ver uma acalorada conversa entre o ministro Flávio Dino (Justiça), que gesticula enfaticamente, e o ministro José Múcio (Defesa), que fala ao telefone.
As imagens
De vários ângulos, é possível notar uma série de falhas de segurança e uma aparente desorientação dos poucos agentes no local, o que permitiu o acesso e o livre trânsito dos vândalos pelos andares e salas do Planalto.
De acordo com o jornal ‘Folha de S. Paulo’, a entrada principal do palácio chegou a ficar desguarnecida por 45 minutos após policiais e militares do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) recuarem o bloqueio no local.
A ameaça à invasão ao Palácio do Planalto começou por volta de 15h, quando o Congresso Nacional já estava tomado pelos golpistas. Um grupo de vândalos enfrentou policiais militares no estacionamento do prédio.
Cerca de 20 policiais e militares do BGP fizeram, então, um bloqueio às 15h11 em frente ao portão principal que dá acesso ao palácio. Ao longe, bolsonaristas jogavam pedras, cones e extintores.
Além da relíquia histórica, Antonio Claudio Alves Ferreira, 30, que no dia da invasão usava uma camisa com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), danificou um caixa eletrônico e outro objeto usando a haste de uma bandeira, sem ser molestado em nenhum momento. Ele foi preso pela Polícia Federal em 23 de janeiro na cidade de Uberlândia (MG).
O major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que estava como coordenador de segurança das instalações no Planalto, foi visto um intervalo de meia hora interagindo com manifestantes no andar do gabinete presidencial.
Pereira aparece nas imagens de câmeras do terceiro andar do Planalto conversando e dando água para os vândalos. Em outros momentos, circula ao telefone quando eles já haviam invadido salas do andar presidencial e testemunha um golpista furtando um extintor de incêndio.
Além da depredação, pelo menos um vândalo tentou arrombar um caixa eletrônico do Banco do Brasil, no Planalto, mas acabou desistindo após não conseguir.
Outros se sentiram à vontade para trocar mensagens por telefone, fumar, fazer selfies e lives enquanto participavam da invasão.
São poucos os momentos em que há ações incisivas dos homens do GSI na tentativa de proteger o local. Um deles mostra que dois vândalos foram barrados na tentativa de subir os andares do Planalto e fugiram após avistarem um agente do GSI de arma em punho.
Essas ações, porém, foram isoladas e não ocorreram mais após a invasão tomar corpo.
A suposta leniência das forças de segurança em proteger a sede dos três Poderes já resultou no afastamento provisório do governador Ibaneis Rocha (MDB) e na intervenção na segurança pública do Distrito Federal, medidas que já chegaram ao fim.
O presidente Lula também demonstrou insatisfação com o meio militar, fez trocas no GSI e afirmou defender que todos aqueles que tenham agido de forma irregular no dia dos ataques sejam punidos.
Apesar disso, o governo trabalhou contra a instalação de uma CPI no Congresso para apurar os ataques, diante da avaliação de que isso pode atrapalhar as suas prioridades econômicas, além de servir de palanque a teorias da conspiração bolsonaristas –a principal delas, a de que o governo estimulou os ataques.
O intuito, agora, é tentar obter maioria na CPI para direcionar os trabalhos no sentido do que está sendo feito pelas investigações da Polícia Federal e outras instituições, que é a de identificar e punir não só os vândalos, mas os financiadores e os autores intelectuais dos grupos golpistas.
Neste domingo (23), a PF tomou o depoimento de nove militares que estavam trabalhando no dia 8 de janeiro. Todos eles saíram sem falar com a imprensa.
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