Após queda de helicóptero na Floresta Amazônica, no último dia dia 16, Josilei Gonçalves de Freitas, piloto tenente-coronel; Gabriel Assis Serra, mecânico; e José Francisco Pereira Vieira, engenheiro, precisaram traçar um plano de sobrevivência caso não fossem resgatados logo. A estratégia envolveu descer rio abaixo em colchão inflável, enviar R$70,00 dentro de garrafa e cozinhar arroz em pedaço da aeronave.
O desafio ainda foi intensificado pelo calor extremo da maior floresta úmida e pela água barrenta do rio, que serviu como único líquido para manter a hidratação dos tripulantes.
O plano de sobrevivência
Josilei começou a elaborar um plano desde o primeiro momento da pane no avião. O piloto conta as estratégias que usou para sobreviver quatro dias na selva:
- Primeiro, usou a energia que faltava na aeronave para procurar um lugar mais seguro para pousar;
“Eu aproveitei a energia que eu tinha da aeronave para procurar um lugar para pousar. E aí entrei no vale de Serra do Navio, entre as montanhas para procurar um lugar para pousar e também achar um ribeirinho, um rio para poder ser usado como água, caso eu precise ficar na floresta por muito tempo, e também usar o rio como meio de sair e buscar ajuda. E assim eu fiz, até a aeronave perder totalmente a energia de rotação”, contou.
- Em seguida, usou duas árvores como “amortecedores” até o helicóptero chegar ao chão;
- No 1º dia, ele pôs um pedido de socorro e dinheiro dentro de uma garrafa pelo rio;
“Eu mandei uma sonda pelo rio. Botei dentro de uma garrafa uma mensagem e R$70,00 porque podia incentivar um ribeirinho a nos ajudar.”
- No 2° dia, Gabriel foi escolhido para descer o rio em um colchão inflável em busca de ajuda;
“Decidimos mandar o mecânico que é mais jovem, mais forte, foi sargento da Força Aérea então tem experiência militar. E fizemos o seguinte combinado: quem encontrasse ajuda primeiro, saía pra buscar o outro.”
- Antes disso, Josilei e Gabriel estenderam um fio de aço para ampliar o sinal de rádio da antena VHF, que havia quebrado;
- Os tripulantes tinham alimentos apenas por quatro dias, então precisaram dividir bem as refeições: chupavam laranja pela manhã, almoçavam a melhor comida do dia e jantavam o que tinham poupado do almoço.
- Para cozinhar, Josilei tirou uma chapa de alumínio da aeronave, limpou a tinta tóxica e fez arroz carreteiro nela;
- No 3° dia, o piloto assou um dos dois peixes que levava de encomenda para Macapá
- No sábado, às 9:30, Josilei avistou os aviões de resgate e mandou sinal pelo rádio através da antena VHF;
- Em seguida, os sobreviventes fizeram sinal de fumaça para que as equipes pudessem localizá-los com maior exatidão;
- Gabriel também avistou a aeronave – parou, como havia sido combinado – e foi resgatado em cima de uma pedra.
Alimentação
Para ter alimentos até um possível resgate, os tripulantes precisaram racionar a comida. No helicóptero havia macarrão, arroz, café, enlatados, calabresa e outros. No dia da queda, cada um comeu um enlatado de atum.
Nos dias seguintes, eles faziam três refeições por dia divididas em: uma laranja pela manhã, um almoço mais reforçado e um jantar com o que sobrou do almoço.
Josilei conta que ele foi o cozinheiro do segundo dia, e para cozinhar o arroz, ele retirou uma chapa de alumínio da aeronave, limpou a tinta tóxica e fez a comida em cima do metal.
Para manter a hidratação do corpo, a única opção era a água do rio. “A água era barrenta, o rio era um pouco fundo, a gente não conseguia pegar água mais no meio e pegava a água muito na beirada, então eu sei que a água não é muito boa, por isso eu estou até no hospital, estou desidratado e me recuperando disso, porque eu bebia pouca água para não ter problema estomacal“, contou Josilei.
No terceiro dia (18), o piloto assou um dos dois peixes que levava como encomenda. “Caso precisasse ficar mais tempo, eu tinha um pouquinho de proteína. Mas eu tinha uma provisão ali de mais uns quatro, cinco dias de carboidrato, de arroz, de macarrão, essas coisas, para poder estar fazendo e mantendo a energia no corpo“, falou.
Contato com as equipes de resgate
Às 9:30 de sábado, dia 19, Josilei avistou os aviões da Graesp e do GTA. Foi até o rádio, recebeu a amplificação de sinal e então trocou o fusível da antena VHF para ter energia. Assim, o piloto conseguiu fazer contato com os aviões.
Através desse primeiro contato, as equipes de busca localizaram as coordenadas dos tripulantes, que começaram a fazer sinal de fumaça.
“Ampliei a fumaça junto com o Francisco, que é um engenheiro, para a gente ter mais sinalização na região, embora muito difícil, porque é um vale, o ar não circula e a fumaça acaba não tendo muito efeito. Mas conseguiram nos localizar”, relata o piloto.
A bateria do rádio só aguentaria até às 14h de sábado – o que foi suficiente para o resgate.
Resgate
Após contato entre os sobreviventes e a equipe, o resgate do piloto e do engenheiro foi realizado por volta das 14h de sábado (19), próximo ao Rio Itapuru, ao sudoeste de Pedra Branca do Amapari, município distante cerca de 183 quilômetros da capital do Amapá.
Josilei e José Francisco também avisaram sobre Gabriel, que havia descido o rio há mais de 30h. O mecânico foi encontrado em cima de uma pedra.
“Ele já tinha visto o avião passando, então já estava parado aguardando socorro, porque nós tínhamos combinado isso. Resgatamos ele e, graças a Deus, os três retornaram para casa“, disse Josilei.
Após o resgate, os tripulantes foram encaminhados ao Hospital de Emergência (HE) de Macapá.
“Ninguém teve nenhum arranhão, né? Eu pelo menos só machuquei a mão porque fiz muita força de comando, bati minha coxa em um dos comandos, mas superficial. O Gabriel teve um impacto na costela porque a aeronave bateu mais do lado dele. O Francisco também bateu a cabeça, mas tudo superficial, nada profundo, nenhuma fratura, nada que inflamasse. Todos destemidos da aeronave e ativos, em condições de trabalhar para sobreviver“, desabafou o piloto.
*** Informações com ➡ Revista Fórum
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