Por Ivan Longo e Henrique Rodrigues (Revista Forum)
Retrospectiva – Há exatamente 1 ano, no dia 12 de dezembro de 2022, o Brasil vivia um momento de tensão. Naquela data, fazia pouco mais de um mês que Luiz Inácio Lula da Silva havia ganhado a eleição presidencial contra Jair Bolsonaro e apoiadores radicais do ex-presidente realizavam atos antidemocráticos, acampamentos em frente a quartéis generais do Exército e bloqueios golpistas contra o resultado do pleito.
Na tarde daquela segunda-feira, Lula foi diplomado como presidente da República pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tratava-se do último rito formal pós-eleição antes da cerimônia de posse, que aconteceria no dia 1º de janeiro de 2023.
Durante a cerimônia na Corte eleitoral, uma movimentação estranha começou a tomar a capital federal. Bolsonaristas radicais cercaram a sede da Polícia Federal, a violência foi escalando e, em dado momento, houve uma tentativa de invasão ao prédio da corporação.
Com faixas, cartazes e palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o TSE e acusando fraude nas eleições, apoiadores de Bolsonaro justificavam que estavam tentando “libertar” o indígena José Acácio Serere Xavante, o “cacique Serere”, preso à época após ordem do STF por participar de atos antidemocráticos e reunir pessoas para cometer crimes.
O que se viu na sequência, entretanto, não foi um ato espontâneo pela libertação de um homem, mas sim uma ação golpista coordenada, com ares de terrorismo, para promover o pânico na capital federal. De forma “profissional”, os radicais, com pedras, pedaços de pau, bombas caseiras e fogos de artifício, roubaram botijões de gás em postos de gasolina, incendiaram carros, ônibus, efetuaram bloqueios e depredaram a cidade, aterrorizando os moradores.
A investida golpista e violenta durou horas sob a inércia da Polícia Militar do Distrito Federal. Foi somente quando a Tropa de Choque, tardiamente acionada, entrou em cena que a “noite de terror” cessou, deixando um rastro de destruição e também de incertezas sobre o que viria a acontecer depois.
No dia seguinte ao ocorrido, a reportagem da Fórum divulgou, com exclusividade, o primeiro relato de um servidor da Polícia Federal (PF), lotado na Presidência da República, que acusou Gabinete de Segurança Institucional (GSI), à época comandado pelo general Augusto Heleno, de envolvimento direto com a ação golpista e terrorista dos radicais apoiadores de Jair Bolsonaro.
(..) “O que está acontecendo e, principalmente o que ocorreu ontem em Brasília, é terrorismo de Estado. O GSI está na cabeça disso, e o uso da área do QG, que é militar, é do Exército, não é à toa. O próprio secretário de segurança do DF disse isso ontem em coletiva, que ‘ninguém entra lá porque é área do Exército’, uma desculpa pronta e perfeita. O GSI tem hoje poder para controlar mais de mil militares diretamente lá dentro (do QG do Exército e nos acampamentos) e eles estão literalmente bancando, mantendo e abrigando essa gente lá dentro (da área do QG) e logicamente ninguém fardado está aparecendo, porque essa é a forma de operar deles, uma guerra híbrida que alimenta e fomenta tudo que está ocorrendo ali. É explícito para quem está perto que o GSI está incitando isso com esses civis, todo mundo está por ali (Gabinete da Presidência) sabe disso”, disse o servidor da PF à época.
Tal fonte foi a primeira a alertar sobre a participação de órgãos do governo Bolsonaro nas ações de “terrorismo de Estado” contra o resultado das urnas e, nas semanas seguintes, com a tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília em 24 de dezembro e os atos golpistas de 8 de janeiro, e as consequentes investigações do STF e da CPMI instalada no Congresso Nacional, confirmou-se o alerta do servidor da PF.
“Nossa democracia quase ruiu”
O mesmo servidor da PF, que já no dia seguinte à noite de terror em Brasília alertou sobre o envolvimento do GSI de Heleno com o golpismo, foi o responsável pelos relatos à Fórum que basearam uma série de reportagens sobre os atos golpistas, inclusive transmitindo ao vivo o levante antidemocrático, de dentro do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro.
Em nova entrevista à Fórum, 1 ano após a “noite de terror” que serviu como uma espécie de ensaio geral para os próximos atos extremistas que ocorreriam, a fonte palaciana faz um balanço dos acontecimentos e relembra que, à época, “ninguém queria ver” o que “estava debaixo dos nossos narizes”.
(..) “Aqueles atos de terrorismo de Estado estavam debaixo dos nossos narizes, mas parece que ninguém queria ver… Aí alguém lá riscou o fósforo e houve a fagulha, e deu no que deu, a gente viu o 8 de janeiro logo na sequência”, pontua.
(..) “Eu disse desde o início que a violência ia aumentar e que a nossa democracia estava em perigo. Era o que eu vi lá de dentro, e não deu outra… Sem contar naquele atentado a bomba que acabou não ocorrendo e aquilo ia ser a maior tragédia da história do Brasil… Estava dito e de fato aconteceu tudo que nós vimos no dia 8 de janeiro”, prossegue a fonte.
De acordo com o servidor da PF, já na “noite de terror” de 12 de dezembro havia o envolvimento do GSI de Heleno, apesar da descrença de alguns.
(..) “Tudo que a CPI mostrou, que as investigações do STF mostraram depois, evidenciou o que eu já tinha denunciado desde o início na Fórum, de que havia um intuito golpista real, aberto, e que aqueles militares, aquela gente do GSI, do general Heleno, não aceitava a democracia que tinha vindo das urnas no dia 30 de outubro… Eles estavam tentando algo, e ficou mais do que comprovado depois do 8 de janeiro”, prossegue.
Quase, mas não ruiu
Apesar da tentativa, a democracia brasileira manteve-se viva. Naquele 12 de dezembro, ainda que bolsonaristas tenham aterrorizado Brasília, Lula foi diplomado e, poucas semanas depois, 4 bolsonaristas suspeitos de participar da ação violenta foram presos.
Em 24 de dezembro, houve a tentativa de atentado a bomba no Aeroporto de Brasília, que por pouco não provocou uma das maiores tragédias da história do país. Os autores também foram presos.
Já em 8 de janeiro, uma semana após o presidente Lula tomar posse em uma cerimônia histórica, bolsonaristas promoveram o levante golpista contra as sedes dos Três Poderes. Centenas de pessoas, incluindo militares, empresários e políticos, foram presas, e um relatório indiciando dezenas de nomes ligados ao bolsonarismo produzido pela CPMI instalada no Congresso Nacional está, agora, nas mãos da PGR.
Nesta terça-feira (12), um ano após o “ensaio geral” golpista deflagrado pelos bolsonaristas, Lula anunciou um ato, a ser realizado em 8 de janeiro de 2024, para celebrar a democracia no Brasil.
*** Informações com ➡ Revista Forum
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