PF descobre importação de armas de guerra para o tráfico do RJ; entregas eram feitas pelos Correios e transportadoras

Negociações Captadas pela PF

A Polícia Federal obteve áudios nos quais Peixão discutia diretamente as compras com fornecedores estrangeiros. Em uma das gravações, ele afirma que os investimentos em armamento serão constantes:

“A partir de agora, a gente já não vai parar mais não, né? Toda semana a gente vai estar comprando alguma coisa. Eu vou me programar pra semana que vem fazer uma compra de 100 mil.”

As investigações apontam que Peixão se autoproclama dono de parte do Complexo de Israel, região com cerca de 140 mil habitantes.

Logística e Auxiliares no Esquema

Um dos principais auxiliares do traficante era Everson Vieira Francesquet, apelidado de “Deus” nas transações. Ele atuava como armeiro da facção e supervisionava a chegada dos equipamentos. Everson foi preso ao tentar retirar um fuzil anti-drone disfarçado como “brinquedo eletrônico” em uma encomenda enviada via Correios para Nova Iguaçu.

No celular de Everson, a PF encontrou mensagens com fornecedores da China e do Paraguai. Os produtos eram comprados em dólar e enviados ao Brasil com rastreamento. Recibos da DHL mostram remessas de Hong Kong para o endereço dele. Em uma das mensagens, ele revela interesse em aumentar as compras:

“Veja a melhor forma de envio, dessa vez vou comprar 5 de uma vez. Tenho muitos clientes que querem isso.”

O grupo também utilizava transportadoras locais para movimentar as armas. Em um dos áudios obtidos pela investigação, Peixão garante que tem meios seguros para trazer qualquer tipo de equipamento:

“Eu consigo a transportadora que traz, já. Já tenho contato com a transportadora que vai trazer, até se for um fuzil. Não tem problema.”

Pagamentos via Pix e Fuzis do Paraguai

A investigação também revelou que o TCP usava laranjas para movimentar grandes quantias de dinheiro via Pix. A Polícia Federal encontrou comprovantes de transferências de R$ 30 mil e R$ 32 mil, valores que teriam sido usados na compra de armamentos.

Fuzis eram adquiridos no Paraguai por valores entre R$ 7,5 mil e R$ 15 mil, e depois distribuídos para diversas comunidades do Rio de Janeiro.

Everson, que já havia sido preso anteriormente, foi detido novamente neste mês ao se apresentar à Justiça. Ele é acusado de tráfico internacional de armas e participação em organização criminosa. A PF solicita sua transferência para um presídio federal.

Combate ao Tráfico de Armas

Em entrevista ao programa Fantástico, a Polícia Federal defendeu uma maior integração entre os órgãos de segurança para conter a entrada de armas no Brasil. O superintendente Fábio Galvão destacou a importância dessa cooperação:

“A integração tem um papel fundamental nisso. Os problemas são muito grandes e complexos e exigem coordenação e união de esforço. Desde que assumiu aqui, não só agora, já busca isso, tanto com Receita Federal, IBAMA, em todas as nossas vertentes de trabalho, a gente vem buscando Polícia Civil, Polícia Militar, Secretaria de Segurança.”

Operações Policiais e Resposta das Empresas

Peixão segue foragido. A Polícia Civil já realizou diversas operações para tentar capturá-lo, incluindo a destruição de um resort do tráfico que havia sido construído dentro de uma favela. O local contava com academia, piscina e lago artificial.

Agora, Peixão também é formalmente indiciado por importação ilegal de armas e equipamentos de guerra.

Em nota, os Correios afirmaram que mantêm atuação rigorosa no combate ao envio de objetos ilícitos e colaboram com os órgãos de segurança. A DHL Express declarou que não compactua com atividades criminosas e que acompanha o caso. Já o AliExpress repudiou qualquer atividade criminosa e se colocou à disposição para colaborar com as autoridades.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Everson.