Queda na natalidade atinge Pires Ferreira e outras cidades do Ceará, aponta IBGE

Número de cidades com menos de 100 nascimentos cresce no Estado

De acordo com dados das Estatísticas do Registro Civil divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou o número de cidades cearenses com menos de 100 registros de nascidos vivos em um ano. Em 2013, eram 14 municípios nessa situação; em 2023, o número subiu para 18.

Além de Pires Ferreira, figuram entre as cidades com os menores índices localidades como São João do Jaguaribe (42), Ereré (47) e Pacujá (50). Todas registraram média mensal de menos de cinco nascimentos.

Menor número de nascimentos em 22 anos no Ceará

Segundo o IBGE, 2023 marcou o menor número de nascidos vivos no Ceará desde 2001. Foram 110.128 registros no total — uma redução de quase 10% em comparação a 2013, quando houve 122.401 nascimentos.

Em relação ao ano anterior, a queda foi de 0,9%, mostrando que o declínio tem sido contínuo. Esse cenário se destaca mesmo com os altos números registrados em grandes centros urbanos, como Fortaleza (28,7 mil nascimentos), Caucaia (4,6 mil) e Juazeiro do Norte (3,7 mil).

Especialistas apontam causas econômicas e sociais

Para o professor Alexandre Queiroz Pereira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a redução da natalidade é resultado de múltiplos fatores. Entre eles, estão a migração de jovens para áreas urbanas, o aumento da inserção feminina no mercado de trabalho e as dificuldades financeiras enfrentadas por muitas famílias.

“Há uma mudança no perfil populacional das pequenas cidades. Com menos jovens, essas localidades perdem dinamismo econômico e social, o que pode comprometer seu futuro”, avalia.

Jovens mães em queda: impacto demográfico e social

Outro ponto analisado pelo IBGE é a diminuição da proporção de nascimentos entre mães jovens, especialmente adolescentes. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), essa mudança pode ter reflexos importantes na estrutura demográfica do Estado.

“Menos gestações na adolescência podem significar uma quebra nos ciclos de pobreza, já que essas jovens normalmente enfrentam maiores desafios sociais e econômicos”, explica o analista Victor Hugo de Oliveira.

Planejamento e políticas públicas são fundamentais

A queda na natalidade exige que gestores públicos estejam atentos ao perfil populacional de cada município. Segundo o IBGE, os dados ajudam no planejamento de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, previdência e emprego.

A cobertura dos registros civis tem melhorado ao longo dos anos, mas ainda há desafios. Em 2023, o Ceará registrou 2.717 nascimentos com algum tipo de atraso ou fora do prazo legal, o que evidencia a necessidade de seguir ampliando o acesso da população à documentação básica.

Pires Ferreira e o retrato de uma tendência

Com apenas 71 nascimentos no ano passado, Pires Ferreira representa um exemplo claro da tendência que se espalha por todo o interior cearense. Embora o número reflita um cenário local, ele também é um espelho de transformações sociais, econômicas e culturais que impactam todo o país.

O desafio, agora, é entender os efeitos de médio e longo prazo dessa transição demográfica e garantir que políticas públicas acompanhem essa nova realidade populacional.