STF inicia semana decisiva com depoimentos de aliados de Bolsonaro sobre tentativa de golpe

Ex-ministros e políticos entre os convocados

Ao todo, 51 testemunhas devem ser ouvidas ao longo da semana, incluindo ex-integrantes do alto escalão do governo anterior. Entre os nomes mais esperados estão Paulo Guedes (ex-ministro da Economia), Ciro Nogueira (ex-Casa Civil e atual senador pelo PP-PI), Adolfo Sachsida (ex-Ministério de Minas e Energia), Eduardo Pazuello (ex-Saúde e deputado federal pelo PL-RJ), além do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Contradições e tensão nas audiências anteriores

A semana anterior foi marcada por fortes emoções no STF. Durante a oitiva das testemunhas relacionadas ao chamado “núcleo 3” — acusado de planejar o assassinato de autoridades, como o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes —, os depoimentos trouxeram contradições que elevaram o clima de tensão. O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, voltou atrás em declaração dada à Polícia Federal, negando que tenha ameaçado prender Jair Bolsonaro. Já o ex-comandante da FAB, Carlos Baptista Júnior, confirmou o conteúdo da reunião e disse que Freire fez sim o alerta ao então presidente.

Ironias e ameaças de prisão em sessão conturbada

Durante a oitiva do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, chamado pela defesa do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, o clima ficou ainda mais carregado. Rebelo se recusou a responder de forma direta às perguntas e ironizou os questionamentos. O ministro Alexandre de Moraes reagiu duramente e chegou a ameaçar prendê-lo por desacato.

Descompasso na atuação da PGR

Outro ponto que chamou atenção foi a atuação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Com dificuldades para formular perguntas objetivas, Gonet protagonizou um momento embaraçoso ao sussurrar “fiz uma cagada agora” com o microfone ainda ligado, durante a oitiva de Rebelo.

Defesas contestam sigilo e acusam condução tendenciosa

Advogados de réus investigados criticaram a condução das audiências. Jeffrey Chiquini, defensor do tenente-coronel Rodrigo Bezerra, questionou a decisão do STF de não divulgar as imagens e registros das oitivas. Ele também afirmou que apresentará provas e testemunhas que mostram seu cliente longe do local em que é acusado de monitorar Moraes.

Renato Martins, advogado de Rafael Martins de Oliveira, classificou a atuação do relator como “tendenciosa” e demonstrou preocupação com uma suposta “intenção prévia de condenação”.

Especialistas avaliam postura das partes envolvidas

Para o advogado e cientista político Nauê Bernardo, a atuação da defesa e os embates com o relator são naturais no curso de um processo penal. “A defesa cumpre seu papel de ser combativa, e isso é esperado em casos complexos como este”, afirmou. Ele também alertou que, apesar das contradições, ainda são poucas as surpresas de fato relevantes até o momento.

Testemunhas de caráter dominam estratégia da defesa

Grande parte das testemunhas indicadas pela defesa não presenciou diretamente os fatos investigados. A estratégia, segundo analistas, parece focada em reforçar a imagem dos acusados, destacando sua conduta ética e histórico profissional. Resta saber se essa abordagem terá peso suficiente diante das evidências reunidas pela acusação.

O andamento desta semana no STF promete novos desdobramentos e poderá ser decisivo para o rumo das investigações sobre a tentativa de ruptura institucional denunciada em 2023.