Governo tenta impedir sanção dos EUA a Alexandre de Moraes

Sanções seriam interpretadas como afronta à soberania nacional

Segundo fontes da diplomacia brasileira, o Ministério das Relações Exteriores vem alertando o Departamento de Estado dos EUA que qualquer sanção a Moraes será vista como uma violação à soberania nacional. A resposta, segundo integrantes do governo, seria imediata — ainda que cautelosa — com manifestações de repúdio e declarações públicas, inclusive por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Rubio e Eduardo Bolsonaro pressionam por punição internacional

A pressão para sanções tem origem no senador norte-americano Marco Rubio e no deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eduardo, que atualmente reside nos Estados Unidos, lidera uma campanha contra Moraes e contra o governo brasileiro, alegando violações à liberdade de expressão e perseguição política a conservadores.

Rubio citou a possibilidade de usar a Lei Global Magnitsky, que permite sanções a estrangeiros envolvidos em corrupção ou violação de direitos humanos, como base para punir Moraes. A proposta, no entanto, não foi formalizada até o momento.

STF reage e investiga ações de Eduardo Bolsonaro nos EUA

A movimentação de Eduardo Bolsonaro no exterior já tem desdobramentos no Brasil. O Supremo Tribunal Federal autorizou a abertura de um inquérito, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), para investigar se o deputado licenciado tem atuado contra instituições brasileiras, promovendo ataques ao Judiciário em território estrangeiro.

O parlamentar chamou a decisão de “injusta e desesperada” e voltou a acusar o STF de agir de forma política. Na Câmara dos Deputados, o Partido dos Trabalhadores (PT) protocolou pedido de cassação de seu mandato no Conselho de Ética.

Moraes, Rumble e o embate com plataformas digitais

O ministro Alexandre de Moraes também é alvo de críticas por suas decisões envolvendo plataformas digitais. Em fevereiro, a Trump Media & Technology Group (TMTG) e a rede social Rumble processaram o ministro nos Estados Unidos após decisões judiciais que bloquearam o acesso à plataforma no Brasil. As empresas alegam violação à Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão.

Esse embate tem sido explorado por políticos republicanos, que chegaram a propor uma lei no Congresso americano para proibir a entrada nos EUA de autoridades estrangeiras acusadas de censura.

Governo brasileiro evita exposição pública e busca preservar relações bilaterais

Apesar da gravidade do cenário, o governo Lula adota uma estratégia discreta para evitar o agravamento da crise diplomática. Fontes do Itamaraty afirmam que não há planos para uma reunião bilateral entre Lula e Donald Trump durante a Cúpula do G7, no Canadá, entre 15 e 17 de junho.

A prioridade do governo brasileiro, neste momento, é impedir que a crise avance para o campo das sanções formais, que poderiam trazer danos duradouros à relação entre os dois países — tanto no plano político quanto no comercial.

Tensão institucional e geopolítica se entrelaçam em novo episódio de crise

O episódio escancara como questões internas do Brasil estão ganhando palco internacional, em um cenário de crescente tensão entre Judiciário, direita política e plataformas digitais. Com a pressão externa alimentada por aliados de Bolsonaro e a retaliação diplomática sendo cogitada pelo governo Lula, o caso Moraes pode se tornar um divisor de águas nas relações entre Brasília e Washington.