Fuga pela mata e mansões de luxo: por que criminosos cearenses são protegidos pelo CV na Rocinha

Fuga organizada surpreende autoridades

As imagens da fuga mostraram um grupo organizado, com roupas apropriadas e insumos para sobrevivência na mata. Para o subprocurador geral jurídico do Ministério Público do Ceará (MPCE), Plácido Rios, o comportamento indica treinamento em técnicas de guerrilha.

“Eles estavam prontos para essa ação, com mochilas que certamente carregavam suprimentos para dias de fuga. São indivíduos treinados e conscientes de suas rotas de escape”, afirmou Rios.

Operação visava líderes do CV escondidos na Rocinha

A operação foi articulada entre o MPCE, a Polícia Civil do Ceará (PCCE), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Militar do RJ (PMRJ). O foco era prender chefes cearenses do CV escondidos na favela.

Apesar do aparato e da mobilização de centenas de agentes, apenas um homem – natural de Brasília, mas com atuação no Ceará – foi preso. Ele estava escondido na comunidade e teve a identidade preservada. Um policial militar foi baleado no pescoço durante a ação e passou por cirurgia, sem risco de morte.

Autoridades negam vazamento de informações

Diante da fuga em massa, surgiu a suspeita de vazamento de dados sobre a operação. No entanto, as autoridades negaram a hipótese. O delegado Kléver Farias, diretor-adjunto da PCCE, explicou que o grande porte da operação, aliado à estrutura das favelas, dificulta a surpresa total.

“As comunidades possuem rotas preparadas e edificações estratégicas. Os criminosos ocupam áreas com saídas alternativas, tornando qualquer operação mais complexa”, detalhou o delegado.

Interferência política e estrutura de luxo

Além da atividade criminosa direta, os chefes do CV escondidos na Rocinha também estariam envolvidos em manipulação eleitoral. Segundo o MPCE, eles influenciaram diretamente a eleição municipal de Santa Quitéria, em 2024, ajudando a eleger prefeito e vice que depois tiveram seus mandatos cassados por abuso de poder.

Investigadores também identificaram um edifício de seis andares, construído ilegalmente na Rua Dionéia, usado como base da facção. Os dois andares superiores eram ocupados pelos líderes do grupo, incluindo cearenses. O MP espera que a Justiça determine a demolição do imóvel.

Apreensões milionárias e operação paralela em presídios

Durante a ação, foram apreendidos cerca de R$ 500 mil em bens, incluindo 204 kg de drogas, equipamentos de academia, televisores e outros itens de luxo pertencentes aos alvos.

Paralelamente, uma nova ofensiva contra o CV foi deflagrada no Ceará, com foco no tráfico de drogas comandado de dentro de presídios. A Operação Evolutio cumpriu cinco mandados de prisão e busca em Fortaleza e Caucaia. A investigação teve início após a apreensão de celulares usados ilegalmente por detentos da facção.

Rota internacional e interesses econômicos

Para as autoridades, o interesse do CV no Ceará é estratégico: a proximidade com a Europa e a África, dois portos importantes e a baixa fiscalização tornam o estado um ponto-chave para o tráfico internacional. “É uma disputa por território e dinheiro”, finalizou Plácido Rios.