Áudios revelam esquema de corrupção envolvendo policiais civis e facção criminosa no Rio

Nota fiscal falsa escondia o transporte da droga

O caminhão saiu do Mato Grosso do Sul com destino ao Rio de Janeiro, transportando a droga escondida sob uma nota fiscal que indicava frango congelado. A interceptação ocorreu na região da Serra das Araras, onde o veículo, escoltado por viaturas da Polícia Civil, foi abordado por agentes da PRF. Em vez de realizar a apreensão formal, iniciou-se uma negociação com os traficantes.

Neto de traficante relata pressão por propina em gravações

Nos áudios, Lucinara Koerich, esposa de um dos traficantes, afirma:
“Os polícia tão pedindo dois milhão pra soltar a mercadoria. Eles querem dar um milhão e meio.”
Em outro trecho, Carlos Alberto Koerich, também envolvido, relata para a companheira:
“Tô no maior desenrole com o cana aqui, amor. Pegaram o caminhão ali na Serra das Araras.”

Advogados intermediaram esquema de liberação da carga

A investigação da Polícia Federal identificou os advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca como os principais intermediários da propina. Um dos áudios mostra Jackson reclamando da divisão do dinheiro:
“Chega na hora, os caras levaram tudo, mano. (…) A gente que agilizou tudo. Tem consideração nenhuma pelo colega.”

Segundo a PF, 10% do valor total da propina seria destinado aos advogados, mas o combinado não foi respeitado.

Policial civil forjou liberação por escrito

Para “legalizar” a liberação do caminhão, o policial civil Deyvid da Silveira escreveu à mão um documento afirmando que nada foi encontrado no veículo e que o motorista estava liberado. Com isso, a carga chegou ao Complexo do Alemão e foi distribuída às comunidades da região.

Carga reaparece após retorno do caminhão ao Sul

Após a entrega da droga, o caminhão retornou ao Sul do país e foi parado novamente pela PRF. Dessa vez, fragmentos de maconha foram encontrados e periciados, permitindo comprovar que o veículo realmente havia transportado entorpecentes.

Prisões e liberdade após decisão judicial

Foram presos os policiais civis Juan Felipe Alves, Renan Guimarães, Alexandre Amazonas, Eduardo de Carvalho e Deyvid da Silveira, o policial militar Laercio de Souza Filho, e os advogados Leonardo Galvão e Jackson da Fonseca. No entanto, todos, exceto Jackson, foram soltos por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que entendeu que o caminhão estava vazio no momento da abordagem e que não havia provas do crime de tráfico. Eles seguem respondendo em liberdade, apenas por corrupção.

Já os traficantes Carlos Koerich, Lucinara Koerich e Marcelo Bertoldo permanecem presos, acusados de tráfico de drogas e organização criminosa.

Grupo de mensagens expõe corrupção desde 2020

Durante a apuração, a PF descobriu que os policiais civis investigados mantinham um grupo em aplicativo de mensagens chamado “Mente de um Vilão”, onde discutiam operações ilegais desde 2020. Em um dos áudios, o agente Juan Felipe fala abertamente sobre lucros:
“A gente pode beliscar alguma coisa. (…) Arruma umas nota fiscal, entendeu? Vai ganhando e amenizando nossa dor.”

Corregedoria acompanha o caso e apura condutas

A Corregedoria da Polícia Civil informou que todos os agentes envolvidos estão afastados de suas funções e respondem a processo administrativo, que pode resultar em demissão.

Autoridades lamentam envolvimento de policiais com o tráfico

O delegado da Polícia Federal, Pedro Duran, destacou a gravidade do caso:
“A gente respeita muito o trabalho da polícia, mas lamenta a ousadia de quem, em vez de combater o tráfico, se associa a ele.”

Já o promotor de Justiça Fabiano Oliveira reforçou o impacto na confiança social:
“A sociedade deve confiar na polícia, mas ações como essa abalam a credibilidade do Estado.”