Crianças sentadas acima e abaixo de caixas registradoras, mulheres amamentando ao lado de totens com anúncio de chesters para a ceia de Natal e famílias inteiras a cochilar aos pés das gôndolas de sonhos de padaria. Esse foi o cenário visto na manhã de hoje no supermercado Extra, no bairro da Madalena, zona oeste do Recife, quando cerca de 200 pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar, ocuparam o estabelecimento em busca de alimentação. A ação serviu de apelo para garantir comida na mesa e de protesto pela alta nos preços e foi registrada em 10 capitais brasileiras.
A ideia das famílias participantes não era comprar, mas pedir cestas básicas à empresa. Andrea Valéria Barreto, 32, e os seis filhos, entre 2 e 14 anos, fizeram parte do ato. Após garantir o café da manhã com uma massa de cuscuz doada, ela saiu com a família da Ocupação Selma Bandeira, em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana, na busca por mais alimentos. “Eu saí sem saber o que vou dar aos meus filhos quando chegar em casa”, afirmou.
Quando começou a pandemia, eu estava recebendo o auxílio emergencial e a ajuda de algumas ONGs. Não dava pra comprar tudo; roupa, sapato, etc. Mas o básico, dava pra comprar. Agora a ajuda acabou e tudo está caro. Um saquinho de leite era R$ 3, R$ 3,50. Agora só encontro a R$ 7. O gás de cozinha era R$ 84, R$ 85, agora eu só acho a R$ 120. O jeito é cozinhar no fogo de lenha.
De acordo com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que luta por reforma urbana e moradia e organizou a iniciativa de ocupação, o grupo chegou por volta das 8h30 ao supermercado. Participantes, funcionários que preferiram não se identificar e a PM descreveram o ato como pacífico e “sem ilicitudes”. O atendimento a clientes foi suspenso até as famílias deixaram o local, por volta das 15h.
“Decidimos fazer esse ato chamado Natal Sem Fome para denunciar a carestia, a miséria que o pessoal tá passando. A ideia é fazer atos como esse para mostrar que falam tanto em fazer o bem, mas não cumprem. Não estamos saqueando, estamos solicitando”, disse o coordenador nacional do MLB, Kleber Santos.
Ao longo do dia, registros de ocupações semelhantes, também em supermercados Extra, foram registrados em ao menos nove capitais. “Escolhemos o Extra porque sempre solicitamos contribuições e eles nunca atenderam, e também pelos casos de injustiça a nível nacional”, afirmou Santos. Em São Paulo, a rede já foi protagonista de episódios que vão desde tortura por parte de funcionários a um suspeito de furto, no Morumbi, até a procedimentos distintos na venda de carnes, como o protocolo de pagamento prévio de bandejas vazias antes da liberação do produto, no Jardim Ângela.
O grupo recebeu uma promessa de reunião remota com a gerência nacional da rede de supermercados. “Caso venha algum retorno negativo, a gente vai se organizar para fazer uma ação aqui e nos outros locais”, afirmou Natália Lúcia, uma das coordenadoras nacionais do MLB que acompanhou o ato no Recife.
O UOL questionou o grupo GPA, proprietário da rede Extra, sobre o resultado da reunião, mas não obteve resposta. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.
*** Informações com 👉 Uol
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