Violência em dobro: Polícia Civil investiga tortura contra dois homens suspeitos de furtar picanha em supermercado. Assista ao vídeo do Fantástico.

POLÍCIA

A Delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, investiga um caso de tortura dentro de um supermercado do município. Dois homens, de 32 e 47 anos, um deles negro, foram levados para o depósito do estabelecimento e espancados por 45 minutos. De acordo com o delegado Robertho Peternelli, a dupla teria furtado dois pacotes de picanha, que custam cerca de R$ 100 cada. Entre os suspeitos das agressões estão cinco seguranças, o gerente e o subgerente do supermercado.

A polícia identificou, por enquanto, dois dos cinco seguranças envolvidos nas agressões, mas não divulgou os nomes deles. Em nota, a rede Unisuper informou que “repudiamos veementemente qualquer ato de violência ou de violação dos Direitos Humanos” e que está “integralmente à disposição das autoridades para fornecer todas as informações solicitadas”. A empresa Glock, que presta serviço ao supermercado, disse em nota que só vai se manifestar em juízo. Os advogados do gerente Adriano Dias e do subgerente Jairo da Veiga, também disseram que só vão se manifestar em juízo. As notas completas estão no fim da reportagem.
Os dois homens que foram agredidos não quiseram falar. Eles estão muito assustados com o que aconteceu.
“Os cinco seguranças e o gerente devem ser indiciados por tortura e ocultação das provas. O subgerente por tortura e omissão. A polícia investiga indícios de outro crime, extorsão mediante sequestro, porque eles só foram liberadas depois do pagamento de R$ 644 exigido pelos agressores”, diz o delegado.

Imagens recuperadas
O caso aconteceu no dia 12 de outubro. A polícia só ficou sabendo porque um dos homens que sofreu as agressões deu entrada no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre com ferimentos graves. Ele tinha diversas fraturas no rosto e na cabeça e precisou ser colocado em coma induzido.
Um parente da vítima contou para os agentes que o homem tinha sido espancado num supermercado em Canoas, a 20 quilômetros da Capital.

De acordo com a polícia, 31 câmeras de segurança gravaram o que aconteceu dentro do supermercado e também no depósito onde as vítimas foram agredidas. Os policiais foram até o estabelecimento coletar as imagens, mas perceberam que os arquivos haviam sido deletados logo que os agentes entraram no local. O delegado Peternelli apreendeu o equipamento de gravação, que foi encaminhado para a perícia.
O perito criminal Marcio Faccin do Instituto Geral de Perícia (IGP) do RS conseguiu recuperar os arquivos.
“Eu analisei alguns trechos até conseguir um instante em que tinha um evento que pareceu suspeito. Uma evidência de algo que a polícia estava buscando. Eles estavam tentando ocultar as provas. Eles acharam que tinham apagado, mas esses arquivos não são apagados desta forma”, explica.
O que aconteceu no depósito
O que as imagens recuperadas mostram são cenas de horror no depósito do supermercado. É possível ver ao menos dois homens armados. Um homem de casaco azul é conduzido por um segurança. Retira dois pacotes que estavam escondidos na roupa e os entrega ao gerente do mercado. Nesse momento, o segurança o agride com um soco e uma rasteira.

Nota da rede Unisuper
Guiados pela transparência que sempre pautou as nossas ações, informamos que chegou ao nosso conhecimento a existência de um inquérito policial referente a uma abordagem relacionada a uma ocorrência de furto. Este inquérito foi instaurado para apurar a conduta dos profissionais da empresa terceirizada Glock Segurança.
Primeiramente, queremos reafirmar que repudiamos veementemente qualquer ato de violência ou de violação dos Direitos Humanos, os quais reconhecem e protegem a dignidade de todas as pessoas e são pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais justa, e reafirmamos o nosso compromisso com o respeito à vida, à coletividade e aos valores éticos e morais que sempre marcaram a trajetória das famílias supermercadistas que construíram a nossa empresa.
Estamos integralmente à disposição das autoridades para fornecer todas as informações solicitadas no intuito de contribuir com as investigações. Somos os maiores interessados em que todos os fatos sejam esclarecidos, confiamos no trabalho da polícia, e seguiremos colaborando com a investigação e aguardando a conclusão do inquérito pelas autoridades.
Nota da defesa de Jairo e Adriano
Na condição de advogados de JAIRO ESTEVAN DA VEIGA e ADRIANO LUGINSKI DIAS, manifestamos o nosso respeito a todas as pessoas e instituições que atuam no presente caso.Porquestõeséticas e, até mesmo em respeito à autoridade policial, nossa manifestação se daráexclusivamente nos autos.
Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti.


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