BRASÍLIA (Reuters) – O ex-chanceler Celso Amorim afirmou nesta segunda-feira que o encontro entre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve ocorrer somente após a posse de Lula em 1º de janeiro, e não mais ainda neste mês como havia sido cogitado.
Os comentários de Amorim, um dos principais assessores de Lula, foram feitos após um encontro do presidente eleito com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan.
“(Sullivan) fez questão de dizer que o presidente Biden estaria disposto a receber o presidente Lula antes mesmo da posse”, disse Amorim aos jornalistas após o encontro.
“O presidente Lula comentou a situação ainda interna, várias providências que têm que ser tomadas, negociações diversas que estão ocorrendo, e disse que talvez não desse. Ele não disse não, valorizou muito o fato, mas disse que talvez não desse para estar antes da posse. Ele (Lula) acha que dá para ir no início do ano, em uma visita oficial como presidente”, disse Amorim.
Lula publicou uma foto ao lado de Sullivan em sua conta no Twitter e disse estar ansioso para conversar com Biden sobre as relações entre Brasil e EUA.
“Recebi hoje do conselheiro de segurança norte-americano @JakeSullivan46 o convite do presidente @JoeBiden para visitá-lo na Casa Branca. Estou animado para conversar com o presidente Biden e aprofundar a relação entre nossos países”, escreveu Lula.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, há uma preocupação não apenas com as negociações do governo de transição, mas com riscos sobre o que possa acontecer no Brasil nas próximas semanas e a necessidade de que Lula esteja no país.
O próprio presidente eleito havia afirmado na semana passada que poderia viajar aos EUA ainda neste ano, depois da diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 12 de dezembro. Era um desejo de Lula fazer várias viagens antes da posse, inclusive aos EUA, como fez ao ser eleito em 2002, mas o tempo curto e o cenário diferente de 20 anos atrás pesaram na avaliação.
O encontro desta segunda –que além de Lula, Sullivan e Amorim, teve a presença de Juan Gonzalez, assessor especial dos Estados Unidos para América Latina, e Ricardo Zuñiga, vice-secretário para assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, o senador Jaques Wagner (PT-BA) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad– durou quase duas horas e de, acordo com Amorim, tratou de vários temas da agenda global, incluindo a situação da guerra da Ucrânia, na Venezuela e no Haiti.
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O ex-chanceler revelou que Sullivan levantou a possibilidade de que uma força internacional seja criada para atuar no Haiti, mas que não foi discutida a participação do Brasil.
“Foi mencionada a uma força internacional, mas não se suscitou o desejo de que o Brasil participasse”, afirmou Amorim.
Como mostrou a Reuters, a possibilidade de uma missão internacional diminuiu nas últimas semanas, depois que um terminal de combustível, que estava sendo bloqueado por gangues, foi liberado. Ainda assim, o governo do Haiti ainda defende a necessidade de atuação internacional. No entanto, o governo eleito no Brasil não demonstrou intenção de participar.
Segundo o próprio Amorim disse a Reuters, apesar da simpatia com o país, o Brasil investiu muito nos 14 anos que ficou no Haiti sem quase nenhum apoio da comunidade internacional.
A visita de Sullivan e Gonzalez, enviados especiais de Biden –que também terão um encontro com o almirante Flavio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos do governo do atual presidente Jair Bolsonaro– está sendo vista como um sinal da necessidade de abrir caminho para uma melhoria das relações com a América Latina e, especialmente, com o Brasil, além de reforçar a legitimidade das eleições brasileiras.
A última visita de Sullivan ao Brasil serviu para o governo norte-americano passar um recado ao governo Bolsonaro de que tentativas de interferir no resultado das eleições não seriam aceitas.
Os EUA acompanharam de perto as eleições brasileiras e Biden foi um dos primeiros presidentes a reconhecer o resultado e a eleição de Lula, em um movimento internacional coordenado para tentar evitar contestações.
*** Informações com ➡ REVISTA ISTOÉ
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