A maioria das pessoas que opinaram na consulta pública aberta pelo Ministério da Saúde para saber a opinião sobre a vacinação contra a COVID-19 de crianças foi contrária à obrigatoriedade da imunização. No período em que a consulta esteve aberta, entre 25 de dezembro a 2 de janeiro, 99.309 pessoas opinaram.
A informação foi repassada pela secretária de enfrentamento à COVID-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Mello, que participou de audiência pública nesta terça-feira (4/1) sobre o tema, em Brasília.
“A maioria se mostrou concordante com a não compulsoriedade da vacinação e a priorização de crianças com comorbidade”, afirmou. Segundo a secretária, a maioria também foi contrária à prescrição médica no ato da vacinação. Ela anunciou que será divulgado amanhã documento com diretrizes refentes à vacinação de crianças.
A secretária afirmou ainda que a consulta pública e audiência pública foram usadas para tomada de decisão sobre o tema. “Trata-se de momento importante e oportuno uma vez que reunimos especialistas, representantes de sociedades científicas e diversas entidades púlicas para discutir tema tão caro, vacinação contra a COVID-19 de nossas crianças, que são o futuro do país”, afirmou.
A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi convidada para participar da audiência, mas encaminhou um e-mail ao Ministério da Saúde, informando que o parecer do órgão favorável à vacinação de crianças é publico e que sua participação não agregaria nada ao debate.
Embora pareça democratizar, a consulta pública é vista como uma ferramenta que não deveria ser usada neste caso, por ser a introdução de uma vacina no Programa Nacional de Imunizações (PNI) uma decisão técnica.
Ao Estado de Minas, o epidemiologista José Geraldo Ribeiro classificou a consulta como “estapafúrdia”. Ele lembra que não se trata de uma decisão técnica. “É como se estivesse convocando as pessoas, que não são engenheiras, para decidir qual material será usado na construção de uma ponte”, afirma.
O Ministério da Saúde disse que a data da vacinação de crianças só seria informada depois de divulgado o resultado da consulta pública. “Não é uma população leiga que vai decidir se determinada vacina vai ser utilizada no país”, diz Ribeiro.
O epidemiologista lembra que consultas, sob a forma de enquetes pela internet não refletem a opinião da maioria, mas costuma ser a opinião do grupo que estiver mais mobilizado para votar. “Não faz nenhum sentido essa consulta. O ministério tem comitê certo para analisar.” O prejuízo não é apenas atrasar o início da vacinação, mas tornar a decisão sobre a vacina alvo de um debate ideológico.
*** Informações com 👉 Jornal O Estado de Minas
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