O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promoveu de uma única vez uma grande mudança no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e nos órgãos ambientais, exonerando praticamente todos os superintendentes nos estados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis).
Também foram trocados diversos ocupantes de cargos do primeiro escalão do Ministério do Meio Ambiente e de órgãos vinculados à pasta. As exonerações foram publicadas em edição extra do Diário Oficial da União, na noite de sexta-feira (13/01/2023), antes de a ministra Marina Silva embarcar para Davos (Suíça) para participar do Fórum Econômico Mundial.
Atualmente, o Ibama tem 26 superintendências estaduais -apenas o Distrito Federal fica de fora- e os cargos foram usados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para aparelhar o órgão com nomeações em postos estratégicos.
O ex-ministro Ricardo Salles e o ex-presidente do Ibama, Ricardo Bim, por exemplo, nomearam uma série de policiais para as superintendências do Ibama.
Na sexta, o governo Lula trocou, em uma única oportunidade, 20 superintendentes do Ibama nos estados.
O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, Luiz Renato Fiori, é um dos exonerados. Ele deixa o cargo de superintendente no Espírito Santo, o qual ocupava desde junho de 2020, na gestão de Salles e Bim.
Em 2021, ele chegou a ser denunciado à Ouvidoria da CGU (Controladoria-Geral da União) por não comparecer ao local de trabalho durante duas semanas.
Servidores do órgão disseram à reportagem que o policial praticava assédio moral e perseguição, instaurando processos administrativos contra subordinados ou trocando de função aqueles que discordavam dele.
Procurado, Fiori afirmou que as ações movidas contra ele são infundadas ou já foram arquivadas. “Em relação às acusações [relatadas por servidores], não tenho conhecimento do teor”, disse.
Outro exonerado foi o empresário Bruno Pinheiro Dias Semeghini, que estava na chefia do Ibama em Goiás. Ele foi denunciado à Corregedoria do Ibama em 2022 e ao Ministério Público do Trabalho por assédio moral e perseguição.
Semeghini foi nomeado para o cargo em 2020, ainda na gestão de Salles. O superintendente, de acordo com os servidores, teria sido indicado ao cargo por políticos do PP.
A denúncia cita que funcionários foram ameaçados por ele e desenvolveram problemas de saúde e psicológicos.
“Devido ao ambiente de trabalho totalmente deteriorado diversos servidores têm apresentados problemas de saúde, como insônia, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, dentre outros, afetando o rendimento profissional e comprometendo o convívio familiar”, afirma a denúncia, à qual a reportagem teve acesso.
A reportagem não conseguiu contato com Semeghini.
Outro que deixou o cargo na última sexta foi o chefe regional no Pará, Rafael Angelo Juliano, nomeado em 2022. Segundo reportagem da revista Piauí, ele é dono de uma consultoria que presta serviços para pecuaristas e sojicultores do próprio estado que, inclusive, já foram multados pelo Ibama.
De acordo com a revista, ele já foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público por adquirir madeira sem licença ambiental comprovada. A reportagem não conseguiu localizá-lo.
Uma ação coletiva movida pela Ascema (Associação Nacional dos Servidores Ambientais) contra a gestão ambiental de Bolsonaro no Ibama e no ICMBio contabilizou 64 casos de assédio moral ou perseguição.
Também foi exonerado na sexta Wagner Fischer, que era gerente na Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. Ele incentivou, em postagens nas redes sociais, os atos golpistas do último dia 8 de janeiro.
Servidores do ministério afirmaram, sob condição de anonimato, que Fischer é conhecido por ser abertamente apoiador de Bolsonaro e crítico de Lula.
Segundo relatos e prints obtidos pela reportagem, ele já utilizou em mensagem no WhatsApp a frase “eu sei o que todos fizeram na gestão passada”, em referência aos ambientalistas defensores de governos anteriores.
Questionado, ele não respondeu aos contatos da reportagem.
No último sábado (14), o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) foi anunciado pelo Ministério do Meio Ambiente como o novo presidente do Ibama.
A área de meio ambiente é uma das em que o atual governo busca promover uma completa mudança de rumos, após os anos de alta nas taxas de desmatamento e das duras críticas das principais nações do mundo, durante o governo de Jair Bolsonaro.
As mudanças no primeiro escalão de ministérios são consideradas rotineiras com as trocas de governo. No entanto, os anúncios feitos da última sexta chamam a atenção por atingirem superintendências nos estados.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, o governo Bolsonaro turbinou as indicações nos órgãos de proteção ambiental, para cargos de chefia, em meio à queda generalizada de servidores responsáveis pelas funções de fiscalização.
*** Informações com ➡ FOLHA DE S. PAULO via JORNAL O ESTADO DE MINAS
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