Por Alessandra Castro (Diário do Nordeste)
Após uma reunião acalorada nesta sexta-feira (27/10/2023), a Executiva Nacional do PDT aprovou uma nova intervenção no diretório estadual do partido do Ceará e destituiu o senador Cid Gomes da presidência da legenda. Um nome para comandar a comissão provisória, que deve ser instalada durante a intervenção, ainda será definido. A ata da reunião não foi publicada até o momento.
Por meio da assessoria, o senador Cid Gomes questionou o processo, alegando que não houve espaço para exercer a “ampla defesa”.
“Não se aprova uma intervenção sem a abertura prévia de um processo, sem dizer do que a pessoa está sendo acusada para que possa exercer seu direito de ampla defesa e por último ter uma deliberação do Conselho de Ética, depois da Executiva e depois do Diretório. Mas eles já aprovaram a intervenção sem cumprir nenhuma dessas etapas. Não sei sequer a razão dessa intervenção”, afirmou o senador.
De acordo com o presidente interino do PDT Nacional, deputado André Figueiredo, a intervenção foi colocada em votação porque o clima “estava muito difícil” no partido. André era presidente do PDT Ceará, mas com a eleição de Cid — convocada por membros do diretório em 16 de outubro —, ele deixou o comando da legenda. O caso é contestado judicialmente.
“Ainda não está decidido quem será o interventor, muito provavelmente será o professor Flávio Torres, ex-senador pelo PDT Ceará. Ele (Cid), inclusive, se levantou dizendo que sairia (do PDT), assim como entrou, pela porta da frente. Muito desgastante para todos, mas o clima estava muito difícil de permanência e, pelo teor dos debates nas reuniões, o clima de paz está ficando impossível. Vamos seguir o devido processo, mas eu não acredito que o senador Cid fique no PDT, não. Tanto pelas palavras que ele disse na reunião, como pelo que ele disse no colégio de líderes no Senado”, declarou.
POSSIBILIDADE DE DEIXAR O PARTIDO
Procurado, o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT), que participou da reunião, disse que o grupo cidista na agremiação irá aguardar a publicação da ata da reunião da Executiva desta sexta para poder tomar as medidas cabíveis, inclusive com a possibilidade de deixar a legenda.
Nos bastidores, pedetistas que participaram do encontro desta sexta, na sede da Fundação Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, alegam que o clima esquentou entre os irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT). Os dois não se falavam desde agosto do ano passado, conforme declarou o senador em entrevista à live do Ponto Poder. Na época, o PDT rachou com o PT por posicionamentos diferentes sobre o candidato que deveria ser lançado para a disputa pelo Governo do Estado.
A ala de pedetistas cidistas defendia o nome da então governadora Izolda Cela (sem partido) ao pleito, enquanto os correligionários mais próximos de Ciro queriam o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) — que acabou sendo lançado como candidato ao pleito. Com isso, o PT oficializou o nome do então deputado estadual Elmano de Freitas (PT) para a disputa, que saiu vitorioso ainda no primeiro turno.
Passadas as eleições, Cid passou a defender a retomada da aliança com PT no âmbito do Governo do Ceará, já que, dos 13 deputados estaduais eleitos, 10 integram a base de Elmano. Ciro, por sua vez, integra o grupo de pedetistas que deseja ser oposição — já que a sigla lançou candidatura própria na eleição, não saindo vitoriosa.
O bate-boca entre Cid e Ciro teria sido motivado por conta da proximidade da ala cidista com o Governo Elmano e por conta da carta de anuência concedida ao presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), deputado Evandro Leitão (PDT), em agosto, durante a gestão interina de Cid na presidência do diretório estadual. A autorização para que Evandro deixe o partido sem perder o mandato é contestada pela Executiva Nacional, sob comando do deputado André Figueiredo, na Justiça.
Ainda antes da votação da intervenção desta sexta, o ex-ministro Ciro Gomes teria deixado a sede da Fundação Leonel Brizola por conta do bate-boca com Cid. Por isso, ele não participou da votação. De acordo com André Figueiredo, o único voto contrário à intervenção no PDT Ceará foi de Cid. Também houve uma abstenção.
CRISE E DESTITUIÇÕES
Apesar da crise interna no PDT Ceará já se arrastar desde a campanha eleitoral do ano passado, o novo episódio de tensão dentro da sigla se deu com a concessão da carta de anuência para desfiliação de Evandro Leitão da sigla. O nome dele é ventilado por pedetistas e por parlamentares de outros partidos para a eleição à Prefeitura de Fortaleza em 2024.
A autorização foi concedida durante uma reunião em agosto, quando Cid estava há pouco mais de um mês no comando interino da legenda no Ceará. A justificativa para a concessão, inclusive, é que não há possibilidade para Evandro disputar a eleição do ano que vem pelo PDT, já que a legenda abriga o prefeito José Sarto — que pretende disputar a reeleição. A autorização passou a ser contestada judicialmente.
No início de outubro, após o senador convocar uma nova reunião para debater o apoio oficial do PDT ao Governo de Elmano de Freitas, André Figueiredo suspendeu a licença da presidência do diretório do Ceará, afastando Cid do comando do partido. Com isso, cidistas convocaram uma reunião para eleger uma nova Executiva Estadual.
Em 16 de outubro, Cid foi eleito presidente da legenda no Estado de forma permanente. Desde então, a medida é contestada judicialmente, com decisões que já afastaram e já recolocaram o senador no cargo — esta última válida até então.
O senador havia assumido a sigla cearense no início de julho, após acordo para apaziguar a ala cidista que pressionava para que ele liderasse a agremiação oficialmente, já que André acumulava duas presidências — a do Diretório Estadual e Nacional. Como é o 1º vice-presidente do PDT Ceará, Cid é o primeiro na linha sucessória.
Membros do diretório aliados a Cid chegaram, inclusive, a convocar uma reunião do diretório para o dia 7 de julho para destituir a atual Executiva Estadual — ainda comandada por Figueiredo. No dia agendado para a reunião, a Executiva Nacional do PDT interveio no diretório cearense, avocando para si os poderes sobre a legenda no Ceará. Depois disso, Cid e Figueiredo entraram em acordo para André se licenciar e o senador assumir de forma interina. O trato acabou em outubro, com a interrupção da licença. Desde então, a disputa pela presidência do PDT voltou a ser acirrada até chegar ao episódio desta sexta.
*** Informações com ➡ Diário do Nordeste
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