O Presidente Lula demitiu três por envolvimento em “escândalos” desde o início do governo.

POLÍTICA

São Paulo, 17 – Em onze meses de gestão, as demissões feitas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo envolvimento com escândalos foram, até o momento, por causa de compartilhamento de publicação sobre a guerra de Israel, dança erótica em um evento oficial e comentários ofensivos sobre a torcida do São Paulo publicados em rede social.

O caso mais recente é a exoneração do jornalista Hélio Doyle da presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – ligada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). No dia 18 de outubro, ele foi demitido após o Estadão mostrar que ele compartilhou em seu perfil no X (antigo Twitter) uma publicação de outra pessoa, que dizia que quem apoia Israel no conflito com o Hamas é “idiota”. “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”, dizia a publicação.

Depois da demissão, também no X, Doyle afirmou que o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que o compartilhamento do post e a repercussão na imprensa criaram “constrangimento ao governo”.

A classificação do Hamas como grupo terrorista se tornou um cabo de guerra entre políticos e foi usada pela oposição como forma de pressionar o governo Lula. Fora do Executivo, o historiador Sayid Marcos Tenório foi demitido da Câmara dos Deputados, onde trabalhou mais de 30 anos como assessor, por zombar de uma mulher vítima do Hamas na guerra em Israel também via rede social.

Também em outubro, no dia 7, o Ministério da Saúde demitiu o diretor de Prevenção e Promoção da Saúde, Andrey Roosewelt Chagas Lemos. Ele foi responsável pela organização de um evento da pasta que, em dado momento do cerimonial, teve uma dança erótica. Uma pessoa encenou uma coreografia no palco ao som da música “Batcu”, da drag queen Aretuza Lovi. Como mostrou o Estadão, o evento custou quase R$ 1 milhão aos cofres públicos.

Nísia da Trindade, ministra da Saúde, disse que foi surpreendida e se desculpou publicamente pelo episódio. Parlamentares da oposição criticaram o governo e a hashtag (símbolo #, usado para reunir publicações sobre um mesmo assunto nas redes sociais) “Viva o CUS” foi parar entre os assuntos mais comentados do X. A frase é uma ironia ao jargão “Viva o SUS”.

Outro caso de grande repercussão envolveu assessoras do Ministério da Igualdade Racial. A ministra Anielle Franco, chefe da pasta, usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir, com as assessoras, à final da Copa do Brasil, no estádio do Morumbi, em São Paulo, para assinar um protocolo de combate ao racismo no esporte com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O uso do avião da FAB já colocou o caso nas manchetes. Depois, o Estadão mostrou que as assessoras da ministra publicaram no Instagram vídeos e fotos debochando da CBF e da torcida do São Paulo. Anielle pediu desculpas à torcida Independente e ao clube. Marcelle Decothé da Silva, que disse na rede social “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… pior de tudo pauliste”, foi demitida no dia 26 de setembro.

A repercussão do episódio rendeu ameaças de morte e à integridade física de Anielle. Dias depois de demitir sua assessora, ela pediu escolta policial e proteção ao Ministério da Justiça.

Outros escândalos não tiveram reação do governo federal. Nesta segunda-feira, 13, o Estadão revelou que Luciane Barbosa Farias esteve reunida duas vezes com assessores do Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino. Os encontros foram fotografados e publicados nas redes sociais. Ela foi como representante da ONG Instituto pela Liberdade do Amazonas (ILA), que defende os direitos das pessoas presas, mas que, segundo a Polícia Civil do Amazonas, atua em prol dos detentos ligados ao Comando Vermelho (CV).

Há 11 anos ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, apontado como um dos líderes do Comando Vermelho (CV) no Estado do Amazonas. Condenado a 31 anos de prisão, ele está detido em uma cadeia em Tefé (AM) desde dezembro do ano passado. O Ministério Público afirma que, desde então, Luciane assumiu a liderança dos negócios criminosos do marido. Ela própria recorre de uma condenação a dez anos em regime fechado.

Além das reuniões com assessores do Ministério da Justiça, Luciane transitou em outros espaços do poder em Brasília, como o Congresso Nacional, onde tirou fotos com parlamentares, e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O Ministério dos Direitos Humanos chegou a pagar diárias e passagens para que ela fosse a um evento que discute a prevenção à tortura carcerária.

Até o momento, a postura do governo federal tem sido de minorar a gravidade do episódio. Dino afirmou que não se encontrou com Luciane e que a divulgação dos encontros dela com seus assessores são “vil politicagem”. Nesta quinta-feira, 16, afirmou que “não demite secretário de modo injusto”. “Se eu fizesse isso, quem iria ser desmoralizado não ia ser o secretário, era eu”, explicou o chefe da pasta.

O presidente Lula prestou solidariedade ao ministro e disse que ele é alvo de “fake news”, sem comentar sobre a reunião com a participação de integrante do Comando Vermelho dentro do ministério. “Essas ações despertam muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas. Daí nascem as fake news difundidas numa clara ação coordenada”, disse o petista o X nesta quarta-feira, 15.

Outro caso que teve tratamento semelhante, sem ação do governo federal, foi o do ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Como mostrou o Estadão, ele usou um avião da FAB para ir a um leilão de cavalos de raça em São Paulo, escondeu da Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 2,2 milhões em animais de raça, contratou como membro de seu gabinete um faz-tudo de uma de suas fazendas no Maranhão e pagou funcionários de seu haras com dinheiro da Câmara dos Deputados.

A irmã de Juscelino, Luanna Rezende, foi afastada da Prefeitura de Vitorino Freire (MA) em uma operação da Polícia Federal (PF) que a investiga por desvio de dinheiro público. A cidade fez contratos na casa dos R$ 16 milhões com a Arco Construções e Incorporações, apontada pela PF como “empresa laranja” do ministro. A cadeira de Juscelino no governo, no entanto, permanece intacta.

Um dos motivos para esse tratamento é o elo com o União Brasil. O partido do Centrão, que está acomodado dentro do governo Lula desde o começo do seu terceiro mandato, divulgou em setembro uma nota de apoio ao ministro e à sua irmã quando houve a operação da PF.

*** Informações com ➡ O Estadão

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