BRASÍLIA – Há exatos sete dias, Brasília fervia com a fritura em praça pública do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, bem ao estilo do presidente Jair Bolsonaro.
O Estadão estava fazendo uma reportagem para mostrar brechas legais incluídas no projeto aprovado pelos senadores, em tramitação agora na Câmara, que cria diretrizes de preços para o diesel, a gasolina e o gás liquefeito de petróleo.
Numa conversa para falar sobre o delicado momento de pressão política e tiros disparados pelo presidente Bolsonaro e caciques do Congresso na direção da Petrobras, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, agora indicado pelo governo para substituir o general da reserva no comando da empresa, foi taxativo: “Eu acho muito difícil encontrar alguém que vá para a Petrobras para segurar preço”.
O comentário de Pires se referia à possibilidade de troca de comando da empresa e uma mudança da política de reajustes dos combustíveis praticada pela Petrobras, baseada na paridade de preços internacionais, chamada de PPI.
Para ele, mudar a política de preços não é difícil, porque ela já foi alterada várias vezes no passado, citando o período do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Do presidente Temer para cá, a empresa passa a ter uma política de tendência de mercado internacional”, lembrou ele sobre as mudanças feitas na empresa na presidência de Pedro Parente, que mudou as regras de compliance da empresa. Estaria nesse ponto a dificuldade de mudança agora. “Se alguém for para Petrobras e segurar preço de combustível está colocando o seu CPF na mesa”, afirmou.
Na entrevista, Pires defendeu a adoção de subsídio ao diesel e gás, mas se manifestou preocupado com o texto do projeto, classificado por ele como de inspiração “puro sangue” do PT por ter autoria e relatoria no Senado de parlamentares do partido.
Uma das preocupações era de que o projeto tirava das empresas justamente a liberdade de preços ao definir três diretrizes para a formação de preços dos combustíveis: o preço do mercado internacional, os custos de importação e de produção.
“Isso significa que no final do dia, se for cumprir a lei, terá que acabar criando uma fórmula. Esse artigo é horrível porque no fundo está promovendo uma intervenção de preços”, alertava ele. “O cara que comprou a refinaria também não vai ter liberdade para ter a política de preços dele? Ele vai ter que seguir uma fórmula?”, questionava ele.
Ele também não se furtou a comentar a posição do presidente Bolsonaro, que para ele estaria numa situação desconfortável nesse momento.
“Se ele faz qualquer tipo de intervenção na Petrobras, de fato, ele é igual ao Lula”, disse ao comentar a defesa de ingerência nos pouco do ex-presidente que lidera as pesquisas na corrida presidencial deste ano. Para ele, se Bolsonaro desse instrumentos para intervir, ele se igualaria nas teses defendidas por Lula.
Pires lembrou que, embora chateado com os preços altos, o presidente e o seu governo, como controlador da empresa, não fizeram uma intervenção no preço. “Quando ele tirou o Roberto Castello Branco, todo mundo acreditava que o general Silva e Luna ia fazer isso e não fez”, ponderou.
Comentário no LinkedIn
Poucas horas antes da confirmação do seu nome, Pires publicou um comentário em inglês na rede Linkedin nessa mesma direção: “Quando o ex-presidente Roberto Castelo Branco foi substituído pelo General, a grande maioria dos analistas e jornalistas apostava que o General controlaria os preços, mas, pelo contrário, a política de paridade de importação foi mantida”, escreveu ele.
“Acho que o risco de intervenção na Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões. A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o Conselho de Administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas. Segundo, se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula”, completou.
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