Os 10 erros da oposição que deram ao Bolsonaro uma grande bancada política no Congresso Nacional

POLÍTICA

A vitória de qualquer candidato nas urnas é mérito de suas próprias escolhas, por óbvio. Quando o concorrente é o próprio governante, tem os ativos da sua gestão (ou as falhas dela) para influenciar os eleitores. Bolsonaro, portanto, tem o bônus e o ônus do seu governo para conseguir se eleger no dia 30 de outubro de 2022. Feito esse comentário elementar, há uma série de fatores que explicam a onda bolsonarista no último domingo, quando o presidente conseguiu eleger os principais governadores do País e fez uma maioria impressionante no Congresso. E o mérito do resultado cabe em grande medida aos equívocos da oposição, que deu instrumentos valiosos para o presidente conseguir uma votação ainda mais expressiva do que obteve em 2018.

A saber:

1) O PT apostou na polarização – Lula defendeu que a polarização é positiva em sua entrevista no Jornal Nacional. Menosprezou o antipetismo e afastou o MDB, ao chamar Michel Temer de golpista. O petista demonizou os outros candidatos e imaginou que o centro migraria para ele. Aconteceu o contrário. A classe média optou por Bolsonaro.

2) A oposição apoiou o drible na lei eleitoral de Bolsonaro – O mandatário conseguiu passar com facilidade no Congresso, com o apoio da oposição, medidas eleitoreiras com validade até o fim do ano e que a legislação proibia – exatamente para evitar o voto de cabresto. Simone Tebet apoiou essa manobra. Mesmo tendo passado a carreira inteira criticando o Bolsa Família, o presidente apropriou-se do Bolsa Família e turbinou a bandeira social, implodindo o teto de gastos. Isso vale só até o final do ano, ressalte-se. Agora, ele anuncia a poucos dias do segundo turno que vai antecipar mais parcelas do benefício e criar o 13° para mulheres que recebem o auxílio.

3) A oposição endossou medidas que deram fôlego artificial na economia – Além do aumento do Auxílio Brasil, Bolsonaro conseguiu intervir na Petrobras e tirar impostos sobre os combustíveis dos governadores, fazendo os preços nas bombas despencarem. Bolsonaro conseguiu anunciar que o País entrou em “deflação”, apesar da explosão inflacionária. As medidas vão criar um efeito rebote na economia em 2023. Mas, daí, Bolsonaro espera estar reeleito e contar com o gogó de Paulo Guedes.

4) Desastre paulista – Fernando Haddad em São Paulo mirou o PSDB, reproduzindo a lógica da polarização. O PT achava que era mais fácil derrotar o bolsonarismo do que o PSDB no segundo turno. O ressentimento com os quase 30 anos de governo tucano falou mais forte. Mas Haddad foi atropelado no dia 2 pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas, que é franco favorito para o Palácio dos Bandeirantes. Márcio França e Alckmin ajudaram a implodir o PSDB porque queriam ficar com o espólio. Ajudaram a entregar o estado para Bolsonaro.

5) O PSDB implodiu – Com seus apoiadores tucanos, como Aécio Neves, Bolsonaro atraiu lideranças do PSDB. A direção do partido ignorou as prévias dos filiados (que optaram por João Doria), determinou que a legenda não concorreria à Presidência e puxou o tapete de Doria em São Paulo, imaginado que seus caciques conseguiriam herdar os votos que o empresário amealhou em duas eleições vitoriosas. Mas, ao invés de se ser o algoz dos tucanos, Doria foi a última esperança de o partido se renovar. Agora, o PSDB virou um partido nanico e deve funcionar como braço do bolsonarismo ou linha auxiliar do PT.

6) O PT atacou o agronegócio – Lula chamou o agronegócio, o único setor que cresce na economia, de fascista. Exaltou o MST e criminalizou o porte de armas. Ocorre que fazendeiros pelo País lutam contra invasões, contra oportunistas e contra o banditismo que nenhuma política de segurança nacional (inclusive de Bolsonaro) conseguiu resolver. Os bons empresários querem crescer sem ameaças e sem agredir o meio ambiente. Isso deveria ser incentivado, não desprezado.

7) A esquerda insistiu nas pautas identitárias – A esquerda e o próprio centro ignoraram a força das pautas de costume. Enquanto os progressistas vibram com a ascensão de não binários e indígenas, a sociedade resolveu eleger Damares. Além disso, o País está se tornando majoritariamente evangélico. A sociedade é conservadora, mas obviamente não é fascista – e nem retrógrada, ressalte-se. O cientista político Mark Lilla apontou há muito tempo que essa miopia ajudou a ascensão de Donald Trump nos EUA. Os democratas americanos reverteram essa agenda e optaram pelo centrista Joe Biden, que conseguiu se eleger contra Trump. Aqui, a esquerda ainda aposta em um Bernie Sanders.

8) O PT não apoiou o impeachment – Nos anos 1990, o PT tinha como eixo central pedir o impeachment do social-democrata FHC. Diante da gestão criminosa de Bolsonaro na Saúde, o partido foi tímido. Imaginou que o capitão encolheria pelos próprios erros. O PT não apoiou o impeachment de Bolsonaro, que pregava abertamente o golpe.

9) Voto útil foi um tiro no pé – O PT pregou mais uma vez o voto útil “para salvar o País”. Tentou acabar com Ciro Gomes, acusando-o de traidor. Isso fez Ciro reagir e aumentar suas críticas ao PT, antecipando os votos de alguns simpatizantes para Bolsonaro. A crítica petista aos outros candidatos, inclusive a Simone Tebet, aumentou o sentimento antipetista. Bolsonaro se beneficiou.

10) Salto alto – O PT achava que a Lava-Jato estava liquidada e que a vitória de Lula seria uma revanche contra a “mentira” e o “golpe”. Moro se elegeu, sua mulher se elegeu, Deltan Dallagnol foi o mais votado no Paraná. O PT precisa se aproximar do centro, não é o centro que precisa abraçar o petismo. A classe média caiu no colo de Bolsonaro. Lula também não deu atenção para as eleições estaduais ou para a luta no Congresso. Achava que sua figura ia naturalmente virar o jogo no País. Mas quem saiu fortalecido em 2 de outubro foi Bolsonaro, que tem mais apoios locais para a votação no dia 30.

*** Informações com ➡ Revista ISTOÉ
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